Se tornando estranho por causa das Testemunhas de Jeová

Christian Rossi, 46 anos, é um italiano que foi para a Suíça ainda criança e que deixou as fileiras das Testemunhas de Jeová há 22 anos após ter sua vida prejudicada pelas políticas e doutrinas da seita. Em 2017, ele fundou na Suíça um grupo de autoajuda para ex-membros de sua antiga comunidade religiosa que também se sentem prejudicados assim como ele. Atualmente 15 pessoas fazem parte do grupo e existe outras na fila de espera querendo participar. 

Christian Rossi contou para a imprensa de seu país como foi sua vida dentro da seita norte americana Testemunhas de Jeová. O blog Testemunhas de Jeová Em Foco publica para seus leitores o que ele contou. 




A vida de Christian Rossi nas fileiras das Testemunhas de Jeová 

"Meus pais nunca foram testemunhas de Jeová, mas eles conheciam muitas que frequentemente visitavam nossa casa. As Testemunhas de Jeová realizavam pregações para os italianos que vivem na Suíça. Quando adolescente, passei por uma crise pessoal e desenvolvi uma depressão grave. Procurei ajuda das Testemunhas de Jeová, a única comunidade religiosa que eu conhecia na época. Elas me deram respostas para as perguntas da minha vida.

 Comecei a me envolver e levei as Testemunhas de Jeová a sério. Fui batizado aos 18 anos. Na escola, me tornei solitário e nerd. Eu sempre fazia minhas lições de casa, nunca colava, nunca ia as festas e outras festividades dos outros alunos. Eu  queria ser um exemplo na escola por ser testemunha de Jeová.

A masturbação, por exemplo, é considerada um mau hábito entre as testemunhas de Jeová, mas a maioria o faz. Para mim a masturbação era uma palavra estrangeira. Até outros adolescentes me olharam engraçado quando dei uma palestra sobre o assunto em uma aula. Eu ficava mais ao lado de outros adultos que me via como exemplo. Eu era um jovem sozinho, sem família. 

Na escola Christian Rossi era
totalmente diferente por ser
testemunha de Jeová 

Meus pais pertencem a Satanás     

     Eu me tornei cada vez mais distante de meus pais. Eles tentaram me mostrar as incoerências das Testemunhas de Jeová. Mas para mim Satanás estava por trás disso e queria me tirar do caminho verdadeiro. Eles ficaram preocupados quando eu quis me tornar um evangelizador de tempo integral, em vez de ir para  uma universidade. Tudo era exatamente sobre isso, a pregação era a coisa mais importante, acima de meus sonhos de talvez ser um ator.

As jornadas das Testemunhas de Jeová como pregação e reuniões me dava estrutura para lidar com as dificuldades que surgiam. O fim do mundo era pregado como algo bem próximo e era importante avisar sobre isso para as pessoas na pregação. Até certo ponto isso fazia a pregação ter sentido.

Quando eu tinha 22 anos a depressão voltou e surgiram as dúvidas. Como testemunha de Jeová, você é obrigado a fazer mais e mais na pregação. Eu tinha a consciência culpada, pois o que fazia na pregação parecia ser insuficiente. Nós eramos constantemente bombardeados com assuntos sobre o fim do mundo e era importante continuar pertencendo as Testemunhas de Jeová, pois somente seus membros escapariam da destruição do mundo.

O serviço de pioneiro era mais
importante do que a
universidade 

Não se deve falar sobre suas dúvidas dentro das Testemunhas de Jeová. Você pode ser rotulado de apóstata e os outros se afastam de você. Por ter dúvidas e ter falado sobre elas para outros me afastei. Deixei de ir ao Salão do Reino. Ninguém me procurou ou respondeu aos meus chamados. O amor entre as Testemunhas de Jeová é condicional. Amizades somente são possíveis desde que você cumpram as regras delas. Talvez somente os anciãos se importavam com você com o passar do tempo, mas é o dever deles.

Mesmo fora, eu ainda acreditava nos ensinamentos das Testemunhas de Jeová. Eu disse para mim mesmo: fico fora por um tempo, vejo quão ruim é o mundo e depois volto. Isso nunca aconteceu. Minhas dúvidas sobre a organização religiosa se tornaram certezas. Fiquei esclarecido lendo e aprendendo muito. Por exemplo, eu li um livro de um ex-membro do Corpo Governante, os líderes das Testemunhas de Jeová. Para mim, eles eram como deuses. Ele têm comunicação direta com Deus, fazem aplicações da Bíblia de acordo com essa comunicação.

Quando li o livro, sabia que não podia voltar. Fiquei muito sozinho por um tempo. Eu havia perdido todo o meu ambiente social. Felizmente, eu ainda tinha minha família. Com o tempo, consegui construir um novo círculo de amigos. Mas senti falta de algumas pessoas de quem aprendi a gostar entre as Testemunhas de Jeová.

Um livro escrito por um
ex-membro do Corpo
governante ajudou Christian
Rossi a não ter mais dúvidas 

Deixar as Testemunhas de Jeová é muito difícil, pois elas punem quem deixa suas fileiras, entre eles aqueles que elas consideram como apóstatas. Elas temem que os apóstatas influenciem outros a saberem a verdade sobre a organização. O mais importante para as Testemunhas de Jeová é que quem estar lá dentro cumpram suas regras. É uma espécie de ditadura.

Depois que deixei as Testemunhas de Jeová, passei a ter estudos sobre a Bíblia, religião e psicologia. Eu passei a perceber que a Bíblia pode ser lida e entendida sem as ajudas do Corpo Governante. Atualmente estou fazendo um trabalho que será apresentado na Universidade de Zurique sobre o ostracismo religioso praticado pelas Testemunhas de Jeová. 

Um trabalho sobre a exclusão
praticada pelas Testemunhas
de Jeová será apresentado
na Universidade de Zurique 

Faria tudo diferente 

22 anos depois que saí, criei uma distância entre as Testemunhas de Jeová, mas nunca me livrei totalmente de suas influências em minha personalidade. Ainda faço divisão de pessoas que estão do meu lado, como também das coisas como boas ou más. Tive que aprender que existem diferenças que precisam ser respeitadas.

Hoje não sou membro de nenhuma comunidade religiosa. Estou interessado no Hinduísmo e acredito no renascimento. Se eu pudesse começar tudo de novo, faria tudo de maneira diferente. Talvez eu fosse um ator famoso em Hollywood. As Testemunhas de Jeová marcaram minha vida. Minha experiência lá dentro me tornar qualificado para ajudar outros a se livrarem dos traumas causados por essa organização religiosa em suas vidas. 

Fonte da informação: limmattalerzeitung.ch/limmattal/zuerich/ich-war-nicht-mehr-ich-selber-ein-zeuge-jehovas-erzaehlt-von-seinem-ausstieg-136148430